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A história da colonização das terras que hoje pertencem ao território do município de Riacho da Cruz-Rn teve suas primeiras explorações em 1684 pelo o Sargento-Mor Manoel Nogueira Ferreira (1655-1715), que recebera concessões de sesmarias no território do Apodi datadas do ano de 1682. Em 1684, objetivando expandir os seus domínios territoriais das suas sesmarias nas terras do Pody (Apodi), adentra ainda mais ao oeste seguindo os cursos dos riachos e rios que o conduziam Manoel Nogueira Ferreira em direção a Serra dos Cabeços do Pody (Serra de Portalegre) e consequentemente adentrando as terras que hoje compõem os limites de Riacho da Cruz. Nesse percurso, Manoel Nogueira desbrava o atual sítio do Santo Antônio, São José e a lagoa existente naquele setor. Continuando o seu trajeto de desbravamento, ele descobre um tímido riacho (Riacho Forquilha) e cada vez mais se aproxima da Serra dos Cabeços do Pody onde ele finca os Marcos Lenhosos (dormentes) delimitando o seu espaço territorial do Apodi a Portalegre. No final do século XVII Manoel Nogueira Ferreira realiza as primeiras explorações desses terrenos as margens do Riacho Forquilha, como mangas de soltas, (terras utilizadas unicamente para pecuária que periodicamente os sesmeiros soltavam ali os seus rebanhos para aproveitarem os pastos). E no final do dia, os vaqueiros regressavam para as proximidades de Apodi, enquanto os rebanhos permaneciam nas Soltas. Nesse período, esses terrenos eram pouco usados para a lavoura devido as distâncias existentes para se manter plantações em propriedades abertas e não-cercadas. E a prioridade econômica naquele contexto eram os rebanhos bovinos Ciclo do Gado.
Às margens do Riacho Forquilha, no contexto da Guerra dos Bárbaros, um pequeno grupo de vaqueiros desprevenidos pastoreavam os rebanhos de Manoel Nogueira quando sofreram um ataque surpresa e violento de chuvas de flechas silenciosas e ervadas lançadas pelos índios Tapuias. Esse ataque matou boa parte do rebanho e um dos vaqueiros que ali estava foi morto as margens daquele riacho e possivelmente sepultado naquele local. Uma cruz fora fincada à beira do Riacho Forquilha e tornou-se um ponto de referência entre Apodi e a Serra dos Dormentes (Portalegre). De Portalegre para Apodi, depois de passar pela localidade onde hoje se encontra Viçosa, Manoel Nogueira Ferreira passou a chamar o Riacho da Forquilha pela nova denominação de Riacho da Cruz. Em 17 de janeiro de 1715 falece o Sargento-mor, Manoel Nogueira Ferreira na fazenda Oiteiro, no município de Apodi, ficando a viúva Dona Maria Oliveira Correia e a sua filha Margarida de Freitas herda as propriedades que legitimamente eram do seu pai. Dois anos depois, em outubro de 1717, surgem quatro sesmarias pertencentes aos senhores Manoel Rodrigues Taborda, Matias Lima, Bento Carneiro, e o Capitão Antônio Barbalho Bezerra. Posteriormente, Teodósio Freire de Amorim solicitava terras correndo para o Riacho da Cruz nos idos de 1732 e em 1754 Gregório José Dantas também possuía propriedade naquele território que desde 1684 era usado como mangas de soltas devido a presença de Água no então Riacho da Cruz (Riacho Forquilha).
A referência toponímia de Riacho da Cruz até 1761 tinha uma ligação exclusiva com o Riacho Forquilha e não para as terras em si. Um fato histórico trouxe a origem do topônimo das terras que correm para o Riacho da Cruz, quando o Juiz de Fora Miguel de Pina Castelo Branco acompanhado do escrivão Gaio, Antônio Albino do Amaral e Sebastiao Gonçalves da Silva junto com alguns soldados, realizou a transferência de setenta famílias indígenas para a Serra dos Dormentes (Portalegre) no dia 12 de junho 1761. No dia 13 de Junho o comboio que conduzia os índios chegara à margem do Rio Apodi onde deveriam se reunir outros índios tapuias. Essa marcha de transferência praticamente seguiram os mesmos passos que o Sargento-Mor Manoel Nogueira Ferreira seguiu em 1684. Na primeira instância eles estiveram no espaço territorial que hoje compõe o sitio Santo Antônio (pertencente ao município de Riacho da Cruz) e em razão de ser o dia do referido santo, o Juiz Miguel de Pina Castelo Branco deu esse nome aquele espaço territorial. Em continuidade a transferência dessas setenta famílias indígenas, a presente tropa acampa às margens de uma lagoa e ali pernoitaram no dia 22 de Junho do referido ano. Naquele ambiente, o grupo fez uma grande fogueira em homenagem a São João Batista e rezam um terço em comemoração ao referido santo. Em virtude desse evento o mencionado Juiz deu o nome aquele setor territorial e a própria lagoa ali existente de São João que hoje ainda se preserva. Na manhã do dia 24 de Junho, um dos soldados que fazia parte do comboio estava enfermo e em virtude dessa enfermidade ele chega a falecer as margens do Riacho Forquilha, na parte conhecida como Riacho da Cruz. Naquelas terras o Soldado fora sepultado e o Juiz Miguel de Pina Castelo Branco colocou uma cruz no local onde o soldado fora enterrado e fez a seguinte afirmação em relação aquele território: Essas terras se chamarão de Riacho da Cruz e assim ficou conhecido aquele setor territorial como Riacho da Cruz já não em homenagem ao antigo marco cristão referente ao vaqueiro morto e sim a esse soldado que servia ao presente juiz. Agora a referência toponímia de Riacho da Cruz já não era referente ao riacho que cortava aquele território e sim ao território em si.
Desde aquele ano 1761 até o final do século XVIII as terras de Riacho da Cruz continuavam sendo usadas como mangas de soltas e havia um tímido desenvolvimento na parte agrícola devido as distâncias existentes entre as mesmas e Portalegre ou Apodi e pelo fato dos terrenos não terem cercas, mas apenas demarcações simbólicas marcadas por pedras, riachos, arvores etc. Somente em 1901 a povoação dos terrenos de Riacho da Cruz teve a sua real gênese quando o sr. Francisco Delfino de Oliveira juntamente com a sua esposa Tertuliana Maria da Conceição ambos originários do município de Portalegre vieram se estabelecer naquele território, construindo uma casa feita de pedra e barro. Posteriormente, três dos seus irmãos também vieram fixar morada nas terras de Riacho da Cruz com suas respectivas esposas: João Alexandre de Oliveira e Francisca Maria da Conceição; Vicente de Oliveira e Ágda Maria da Conceição; e Francisco Pedro de Oliveira. Essas famílias construíram as suas casas de taipa, nas proximidades da lagoa no Barandão (propriedade que hoje forma a Bacia do Açude Público Estadual de Riacho da Cruz). Foi a vinda desses irmãos que fez com que as sementes do município fossem lançadas através de quatro casinhas de taipas. Em 1909, a Srª Camila Maria de Lelis (1850-1932), filha de Antônio Fabrício e de Rita Maria de Jesus, saiu do município de Portalegre - Rn e passou a residir no sítio de Riacho da Cruz. O motivo desta mudança, em parte foi de teor religioso. A Srª. Camila de Lelis tinha um oratório particular dentro da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, e quando ocorrera a mudança de vigários naquele ano, o novo sacerdote Pe. Tertuliano Fernandes não aceitou a existência daquele oratório particular na presente instituição religiosa, e isso originou um grande desgosto para a Sra. Camila de Lelis que culminou em sua mudança.
Nas terras de Riacho da Cruz, inicialmente ele reside na casa do Sr. Francisco Delfino de Oliveira, e em pouco tempo ela constrói a sua casinha de Taipa. Uma vez estabelecida nas terras de Riacho da Cruz, ele pronuncia a célebres palavras a ela associada: Agora vou fazer uma casinha de tijolo! . Dessa sua determinação, começa a construção da Capela do Sagrado Coração de Jesus que se concluiu em 1910. E no dia 15 de agosto daquele ano, Camila de Lelis, juntamente com os seus familiares, fazem a transferência das imagens que ela possuía e que ainda estavam em Portalegre, para a Capela recém construída. E no dia seguinte, o Padre Gabriel Toscana da Rocha realiza a sua inauguração religiosa, tendo como padroeiro o Sagrado Coração de Jesus. Apesar da existência do Riacho da Forquilha que corre para o Rio Apodi, as dificuldades de água que o meio oferecia sempre foi grande por não existirem reservatórios de água ali. E os poços artesianos existentes, durante o período de estiagem diminuía a sua vazão. Assim, a medida que esta população crescia, essas mesmas dificuldades também se intensificavam. Nisso, o então prefeito municipal de Portalegre, o Sr. Antônio Martins em 1954 através do DNOCS (Departamento de obras contra a Seca) inicia a construção do sonhado reservatório. Novos moradores se estabelecem na vila para trabalhar na referida obra. A força das maquinas e dos homens fez com que a obra findasse em 1958 e no ano seguinte ocorre a primeira sangria. A partir da superabundância de água oriunda do açude Público Estadual, ocorre um significativo crescimento na Vila. Muitas pessoas residentes em Portalegre e na Vila Viçosa passaram a fixar moradia em Riacho da Cruz.
Em 09 de maio de 1962, houve o desmembramento da vila de Riacho da Cruz da cidade de Portalegre, por força da Lei nº 2764 e sancionada pelo então governador do Estado do Rio Grande do Norte o Sr. Aluízio Alves. Emancipado politicamente, Riacho da Cruz torna-se um novo município do Rio Grande do Norte. As atividades econômicas do município são baseadas na agricultura, pecuária e na pesca em virtude da presença abundante de água do Açude Público Estadual que em sua capacidade de armazenamento abastece a cidade de Riacho da Cruz, Viçosa e Portalegre. Nos últimos anos, o artesanato local tem se desenvolvido significativamente com a confecção de peças em madeira, palha, cerâmica, cestaria e redes; tudo isso é produzido, não em escala industrial, e garante o sustento de muitas famílias da comunidade. Riacho da Cruz localiza-se na Microrregião de Pau dos Ferros e Mesorregião do Oeste Potiguar, a uma distância de 366 quilômetros a oeste da capital do estado, Natal. Limitando-se com os municípios de Apodi, Itaú, Umarizal, Viçosa, Portalegre e Taboleiro Grande, abrangendo uma área de 119 km². O município possui a altitude média de 163 m com as coordenadas geográficas: Latitude: 05° 56' 09,6 37'' Sul, Longitude: 37° 56' 45,6'' Oeste.
Revista de nº 98 - Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN)
Antônio Miranda de Freitas Junior Historiador & Poeta
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